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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

A CORDA ARREBENTA DO LADO MAIS FRANCO (Ricardo Moreira)

A coisa, de quando em quando, difere daquilo que a gente aguarda, e aquele "Futuro com carros voando" surpreende e devolve o fetiche com fardas. Avanço de um "rococó espartano", que, enquanto Atenas vem baixando a guarda,  empurra goela abaixo seus planos, com armas e punho e cães na retaguarda. É a corda que estoura do lado mais Franco, é o cranco que aumenta, é a cura que tarda... Atenções a um fantoche, um incapaz saltimbanco... Enquanto saí incólume a "Eminência parda". Veja o vídeo

PARANAUÊ DA QUEBRADA (Ricardo Moreira)

Chegou minha folga na escala, pensei que, enfim, eu fosse descansar, mas quem manja dos "paranauê da quebrada" sabe que é cilada, não dá. Esquece, que não tem finesse , sonzinho ambiente, um bom vinho, um foie gras . Tudo é feito com a "sutileza" que Bush usou pra invadir Bagdá. O primeiro que passa é o lixeiro; depois, as testemunhas de Jeová; A Brasília do ovo; a Kombi da pamonha e o rapaz que oferece sofá. O vizinho não larga a Makita, criança que grita em desafio aos pais... A disputa pra ver qual rádio mais irrita e a tal da musiquinha do gás. Tem a calopsita da casa da frente, o cachorro da casa de trás. Só na hora do Brasil Urgente que dá para se ter um pouquinho de paz.

MINDSET (Ricardo Moreira - texto musicado por Sonekka)

Talvez venha a vender uns pães de alho na lagoa da Pampulha caso me falte trabalho; ou, quem sabe, umas coxinhas lá em Caxias pra fazer o meu caixinha, já que nunca fiz conchavos. Outra opção é ir pro pedágio da Imigrantes, vender uns refrigerantes, torresminho e queijo coalho... Creio que em um território tão gigante caiba mais um ambulante batalhando por centavos. Talvez também venha a alugar um patinete pra vender bala e chiclete a algumas jardas dos Jardins. Quem sabe eu vire coach lá no Largo do Arouche, ensinando a enriquecer fazendo estampa em silk-screen. Foi-se o tempo de comer gilete, programei meu mindset e ignoro o que é ruim... Tal teoria, se não cumpre o que promete, eu já li na Internet que dá pra vender um rim.

A FICHA QUE DEMORA A CAIR (Ricardo Moreira)

Só acordou quando, enfim, chegou a conta, e a cidade se encontrava já em escombros. Queria só agradar os seus, fazer afronta... Enquanto alicerçavam o caos, dava de ombros. Aos tempos mais sombrios da história é que aponta  esse roteiro recheado de assombros. Quem vibra com o chicote só se desaponta  ao ver que a fila em que está fornece os lombos. Só acordou quando a opressão bateu-lhe a porta e só o que via ao seu redor era ruína. Achou bastar um diretor gritando “Corta!”, e, assim, só no cinema é que a guerra termina. Sempre há quem viva com ódio irrigando a aorta,  cujo discurso incita o “guardinha da esquina”, mas cabe ao tempo eternizar um Herzog ou um Lorca e enviar ao limbo quem os elimina.

GALINHA DOS OVOS DE OURO (Ricardo Moreira)

Havia ali num bairro de periferia uma pequena academia  com seus cinco funcionários. O proprietário, seu Tenório, a priori, cumpria o seu dever como todo bom empresário. Um dia, ouviu dizer pelo noticiário não ser mais obrigatório um monte de "penduricalho": Adicional de hora-extra, férias, décimo terceiro... "Ora, agradeçam se ainda contam com salário". Foi como se ganhasse alguma loteria,  assim da noite para o dia  e sem gastar com a cartela... Sonhou com lucros que jamais conseguiria com a CLT de guia, se não fosse essa chancela. Refez de modo urgente todos os contratos, sem pensar na consequência. ou, nesse caso, uma sequela... ... que isso se transformaria em tendência adotada por patrões  de toda sua clientela. Quem é que se importa com fisionomia, quando o pouco que se ganha  vai pra dentro da panela?

CARPE DIEM (Ricardo Moreira)

Erga as muralhas e os portões, reforce os programas antivírus, jamais perca de vista seus cartões, relaxe (vendo filmes de vampiros)! Precisamos de seu medo, seus alarmes, suas grades... Precisamos do seu medo e legiões de homens covardes. Precisamos que acredite  em salvações transcendentais, muito sangue escorrendo das manchetes de jornais. Tenha medo... Tenha medo Tenha medo, esteja atento, aja sempre com cuidado com pirâmides, esquemas, frotas de carros clonados... Tenha medo, altere a senha, deixe o histórico apagado e se acovarde e se contenha,  você está sendo filmado.

VERDADES INCONVENIENTES (Ricardo Moreira)

Você pode fazer o esforço que for, que codorna não vira condor; pode ainda ousar na estratégia. mas vitória-régia não vira outra flor. Pra você se limpar lhe dão graxa, dão poncho e bombacha em região de calor... Fazem até com que sonhe com a faixa, mas faixa não encaixa em peito perdedor. Eles querem que você encare a Ferrari na pista lá de Maranello, jogam a culpa caso você pare por soltar as tiras do velho chinelo.

TOUCH SCREEN (Ricardo Moreira)

É lógico que Ana deixaria as digitais...  Se bem que nada que envolva Ana é lógico.  Ela vem de antes dessas redes sociais,  sempre brincou no barro e ia ao zoológico.  Hoje ela espalha que se expor ao vírus "é demais" "É bom! Reforça o sistema imunológico".  Quero deixar bem claro, tranquilizo os radicais:  Não se resume o assunto ao item cronológico.  É que ela nunca leu quadrinhos, livros ou jornais (Dessas que riem com o que é escatológico)  Deixou-se seduzir por essa oferta de canais  que juram ser verdade o que é ideológico... Se sente preparada e, em touch screen, se acha formada  e explica tudo com semblante pedagógico.

TEMPERO DA VIZINHA (Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Minha vizinha usa um tempero estranho Um quê de show de reggae  numa praia de Trindade  Vou ver com ela onde é que eu compro,  onde é que apanho  Será que... será que tem lá no mercado da cidade? E todo dia, enquanto eu tomo o meu banho,  eu vejo o fumacê que pelo meu vitraux invade  Será que é caro pra quem ganha o que eu ganho? Será que... será que só se vende em grande quantidade? Se eu for plantar, a poda é feita em qual tamanho? Será que o governo vai criar dificuldade?  Será que os chefs dos programas que acompanho...  Será que dão umas dicas pra se usar com propriedade? Um dia desses, eu prometo que me assanho  e peço um tapaué pra saciar minha vontade,  se for preciso, eu pago à vista e nem barganho  “ai, meu Deus”, é que essa fome chega ser uma crueldade.

HAJA ROLHA (Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Sempre que flagrava algum galho, provava de um vinho diferente. Sua amada lhe dava   muito   trabalho e só uma safra era insuficiente. Foi de Cabernet Sauvignon e Carménère, De Malbec e até de vinho quente... de Merlot e de Syrah... Pinot Noir , Moscatel, Sangiovese e Regent. Depois  modificou   as   procedências, pois se esgotaram os ingredientes. E, sem tempo de manter aquele estoque, experimentou de São Roque até alguns do Oriente. Pois a moça não tinha nenhum sossego, E os sommeliers disputavam o cliente. E era ela mesma quem os recebia quando o pobre do Cornélio estava ausente.

CICLO DO MAINSTREAM

 Em grande parte, nasce de uma folha em branco, que algumas letras tingem lhe dando um sentido... Vira canção, faz excursões com saltimbancos, depois que um violão coloca uns sustenidos. Ganha um arranjo com toques de banjo e flauta, dita a pauta dos cadernos culturais, e aí cai nas graças, vai de febre entre internautas a fundo musical que inspira alguns casais. Ganha um arranjo com toques de banjo e flauta, dita a pauta dos cadernos culturais, telões, coreografias, luzes da ribalta, fogos de artifício, orquestras e corais. Mas, desde sempre, existe um ciclo: vida e morte. (E hoje há um recorte de que isso é bem mais fugaz) Ainda que um texto gere visto em passaporte; Muito em breve não encontrará canais. Se veio em busca de palavra que conforte, peço que tome outro norte, volte casas pra trás... Queridos jovens que me ouvem, tenham sorte,  mas notem que até Beethoven parou no caminhão de gás.

BELLE EPÓXI (Ricardo Moreira)

Por favor, será que alguém pode me situar? Uma noção qualquer sobre o horário?!... Volto de um mergulho no universo literário, porém, se disser que solitário, minto: Eu estava com garrafas de absinto. Tentando juntar fragmentos da Belle Epòque, nesses tempos em que o verso anda extinto Talvez digam que isso já “não cole” - e esteja mais pra “belle epóxi” - e que eu seja mais sucinto. Sem fio da meada e perdido no labirinto, em busca de um fim para o meu texto a todo custo. Eis que eu voltei com tudo pronto a este recinto... o telefone me trouxe à real com um susto, Dar parceria a quem ligou é só o justo.

FALTA NA BARREIRA (Ricardo Moreira)

O que é que essa turma maluca injeta que tem lhes causado esse mal à moleira? Tem gente vaiando gol de bicicleta e aplaudindo falta na barreira. Não me choca a gente analfabeta... Me incomoda erguer-se a bandeira De fazer da burrice uma meta. É o cachorro orgulhoso ostentando a coleira. De um lado, a “gourmet feijoada com pétalas”; De outro, os contentes com a xepa da feira. Tá osso manter-se “a espinha ereta” e o “coração tranquilo” hoje nem por zoeira. Quando é infecção, basta uma coleta, para o diagnóstico e a cura certeira, mas, se a distopia se mostra completa, é a humanidade rumo à ribanceira.

SINTAM-SE EM CASA (Ricardo Moreira)

 Quero lhes dizer  "Sejam bem-vindos", que tenham momentos lindos, não lhes falte o bom humor. Que se multipliquem os sorrisos, prevaleça o "Com licença",  o "Obrigado" e o "Por favor". Que se extraiam histórias para a vida, e o prazer se imponha à lida... Todos sintam ter valor. E, ao ser desafiado o juízo, esteja o que for preciso ali todinho a seu dispor. Que nosso convívio valha a pena, a amizade roube a cena, predomine a união. Surjam soluções mais que problemas, e as maneiras mais serenas sejam sempre a opção. Que, mais que engrenagens de um sistema, a gente tenha em mente o lema o "Venha aqui! Me dê sua mão!" E, ao chegarmos lá na última cena, esse cinema da vida real estoure em emoção.

PORTA GIRATÓRIA (Ricardo Moreira)

Maria precisou se humilhar pra conseguir uma hora livre  dos desmandos da patroa.  Tinha dívida a negociar,  foi até o banco conversar.  Nunca foi pra ficar à toa.  Paulo, por sua vez,  deixou seu cargo na estatal...  Mercado lhe atesta reputação boa  Empresas que quiserem privilégio em informação têm a certeza - encontraram a pessoa.    Tem coisa que é difícil até contar,  mas é preciso destacar  por mais que a verdade doa...  Não pertencem ao mesmo barco  o que só esfrega o convés  eu o que define pra onde é que aponta a proa.  Com tantos desfalques a um país,  Paulo é "doutor" para o juiz  e entra impoluto para a história,  já Maria, se trouxer, na bolsa,  chave e drops de anis,  será barrada pela porta giratória.

SUINDARA (CANTO DA CORUJA)

Eu bati no portão, toquei a campainha,  Invadi o quintal, com o aval da vizinha,  não estava mais lá, a mulher que foi minha...  Deu “linha na pipa”, “vazou”...   Seguiu sua vida a bandida,  deixando um rastro de bebida,  uma conta vencida em meu nome  e, na gaiola suja, um pássaro com fome.  Nem os lençóis da cama,  a dita cuja arrumou.  Bem que uma coruja agourenta avisou  que era questão de tempo  o fim do nosso amor.

REI MORTO, REI POSTO (Ricardo Moreira)

Bem das pernas,  ele era o cabeça  de um tentáculo forte  da organização.  Com um escritório fincado ali,  no coração da cidade,  a menina dos olhos,  sonho de qualquer patrão...  Arriscava até o próprio pescoço,  para salvar a pele,   de gente desprovida  de qualquer visão.  Roeu o osso  e, hoje, no fundo do poço,  nem seu braço direito  lhe mostra gratidão.