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Mostrando postagens de março, 2022

EFEITO BORBOLETA (A TEORIA DO CAOS)

Uma borboleta bateu asas no Japão, o que me fez, cá no Brasil, fuçar gavetas. Não sairia em meio àquele furacão... Sons de trovão, telhas voando e nuvens pretas. Meu celular ficou sem comunicação, fiquei restrito a anotações em cadernetas. Achei moedas fora de circulação, desde cruzados, rúpias, francos e pesetas. Fotos antigas ativaram a emoção... Foram para o lixo coisas muito obsoletas: Versos simplórios sem nenhuma pretensão e uma arminha que atirava espoletas. Achei o número de uma antiga paixão, cessou o vento e entrou em ação um eu "xereta". Achei a moça, e ela tem uma criação do tal inseto do outro lado do planeta.

PERSONAGEM DE FLAUBERT (Ricardo Moreira)

Ele me jurava amor eterno e, assim, nas noites de inverno, me levava ao seu chalé... Me escrevia versos no caderno, se "aprumava" com bons termos, me acordava com café. Me aquecia em frente a uma lareira, me explicava em qual madeira se envelhece um Carménère, eu sorria com qualquer besteira, até porque por vez primeira alguém me amou como mulher. Preservava o clima de paquera e, assim, durante a primavera, era o meu "chef" e o meu chofer... E junto a gente viu de "A bela e a fera" até "Platoon", quase que zera os musicais de Fred Astaire. Nesse tempo achei que era besteira, mas me deu uma ciumeira da invenção dos Lumière... É que ele acompanhava a história inteira e me esquecia na cadeira  às vezes sem um olhar sequer. Fui me acostumando com o abandono e repetia todo o outono "Seja o que Deus quiser" Nem vinha me ver de "tanto sono" e me trocou pelo kimono ou outra distração qualquer. Tinha o futebol da sexta-feira, disse não

PAUTAS MORAIS (Ricardo Moreira)

Havia ali duas meninas tomando cerveja, na praça do coreto, na frente da igreja. Eis que chega um rapaz e uma delas corteja, mas fica revoltado ao ver que elas se beijam. Saiu reclamando, batendo no peito, dizendo que isso era o fim, Mais um entre tantos exemplos de "macho" que desde pequeno ouve "sim". Desatento, perdeu o celular, foi um tal de "Ora veja!", Ao se escancararem detalhes como em uma bandeja... Citar teoria freudiana é o que o fato enseja: Quando se abomina uma coisa, é sinal que a deseja. Claro que o moço é bem Vivo e mantém seus sigilos num chip da TIM Sai de cena o feroz e agressivo... No escuro, prefere chamar-se Yasmin. Quem no palco se mostra ativo com pautas morais geralmente é assim: Abusa no salto, no talco, é festivo na intimidade do seu camarim.

INTRADUZÍVEL (Ricardo Moreira)

O bigorrilha, então, desceu da traquitana, ostentando bugigangas, trecos e quinquilharias; fazendo pose como se fosse um bacana, um verso de Mário Quintana, um detentor de honrarias. Chamando atenção pra si, o doidivanas cria possuir um brilho de ofuscar as Três Marias. Vi que atendia pela graça de Pestana,  e é assim que ele subiu aos trending topics uns dias. Caricatura em filme do Hugo Carvana,  passou a ser aclamado como um verdadeiro guia, ganhou as capas das revistas da semana, afiliou-se a uma legenda, pela qual concorreria... ... Ao posto-mor de uma nação republicana,  certo de que o eleitorado nele se espelharia. E, eis que o povo (e sua vontade soberana) hoje aguenta as trapalhadas do infeliz dia após dia.

IMPACTO SOCIAL (Rdo Moreira)

Doutor Irineu planta soja e alguns deputados pra agir no Congresso; Matheus com sua moto se arroja, fazendo delivery em Bonsucesso. Pastor Valdecir se enoja se as aulas na escola falarem de sexo; Matilde, em sua loja vazia, lê que o país vivencia o progresso. Participam de um grupo em comum, porém só dois deles chafurdam em dinheiro. Estes vivem em Miami ou Cancún, os outros apelando à luz do candeeiro. Compartilham, na rede, ideais... Reconhecem-se iguais como "bons brasileiros", ao trombarem-se em espaços reais, é um tal de SUV derrubar motoqueiro.

YIN E YANG (Ricardo Moreira - texto musicado por Márcio Policastro)

Ela é chás, incensos, flautas e florais. Ele é energético e canções que estão na moda. Ela é pés descalços, chakras, prana e paz... Ele é bar, barulho e mundo sobre rodas. Ela é fibras e alimentos naturais, Ouve o seu som baixinho (sabe que incomoda) Ele, junto a um de seus iguais, é álcool, é torresmo e tudo mais que engorda. Ela é planta... É um mantra... É o tantra! Ninguém entende o que ela faz com um "pilantra", que gosta de UFC e briga por futebol... Eis um relato do amor entre a lua e o sol.

O OVO DA SERPENTE (Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Logo mais, dirão que água é que é veneno E que John Lennon ainda está vivo e é dos Stones, Que o Sol desliga quando o clima fica ameno... Tá demorando a aparecer novo Jim Jones. Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno aos que obtêm graduação pelo I-phone. Filosofar já vai virar gesto obsceno, com punição a qualquer um que o proporcione. O ovo da serpente, há tempos, dá acenos... Pena que só uma minoria anda insone por lamentar não destruí-lo ainda pequeno... e constatar como os cruéis criaram clones. Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno aos que obtêm graduação pelo I-phone. Filosofar já vai virar gesto obsceno, com punição a qualquer um que o proporcione. A cadela do fascismo abriu o dreno... E os “ungidos” se juntaram a Corleone Mas, quem se importa? Segue, que ninguém tá vendo... Hoje, a Palavra é escarrada pelos drones... Logo mais, dirão que água é que é veneno... Que o Sol desliga quando o clima fica ameno... Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno... Filos

A CEREJA E O BOLO (Ricardo Moreira. Texto musicado por Márcio Policastro)

A caravana e o programa de auditório; O caramelo e o aparelho dentário; A caravela e o novo território; O cara de pau e o otário... A acareação e o interrogatório; A carola e o seu confessionário; A carapuça e a ¨culpa no cartório¨; O carimbo e o erário. O carente, a calçada do empório; A carona e o mesmo itinerário Eu, descarado, incorporando esta ao repertório, claramente amparado pelo dicionário

JANTAR DANÇANTE (Ricardo Moreira)

Era início do baile, lá dentro o conjunto tocava " La Mer ". Flagrei-a em seu desembarque, o contraste entre o esmalte e a luva do chofer... Fenda no vestido, um colar de brilhante, o salto no asfalto, meu Deus! Que mulher! Dessas que se devoram com os olhos... Está dispensado o talher. Era início de baile... Creio eu, os garçons distribuíam o couvert Botei na cabeça: “Eis minha ´partner´ na pista!”... “Será que ela quer?!” Um gole de Dry Martini, Nouvelle Cuisine e, aos primeiros acordes de " Love is in the air ". Chamei-a pra contradança. Aceitou. Concluí com sucesso o mister.

BILIONARIOFOBIA (Ricardo Moreira)

Vive por aí dizendo que trata todo mundo com igualdade, mas nunca vi dando "Bom dia" a um bilionário. Em teoria, faz "discurso palestrinha" de humildade; na prática, o que se percebe é o contrário. Esnoba todo restaurante chique da cidade, fica fechado em seu mundinho operário. Insiste em pôr a culpa nos muros e grades, itens, que, nas ilhas, nem compõem o cenário. Fica raivoso ao criticar toda iniquidade, sem ver o quanto sofre um latifundiário. E é até pecado invejar quem tem prosperidade, sobrevivendo quase com o que é necessário. E, pra viver em sociedade, é bom que fique claro: O que seria do malandro, não existisse o otário?

A NOITE FRIA ENSINA A AMAR O DIA (Ricardo Moreira)

Severino trouxe na bagagem  cicatriz e tatuagem que fizera na cadeia, tentando um recomeço sem tropeço ou malandragem... Sabedor que a gente colhe o que semeia. Veio conversando na viagem  com uma moça cuja imagem a princípio lhe era feia, com quem dividira uma hospedagem,  o adeus à agreste paisagem e aos olhos cheios de areia. Um breve papo, coisa de "hora e meia", a filha do "dotô" Gouveia (como se apresentou) instigou no cabra uma coragem, e ele passou a ver vantagem em investir num novo amor. Aprendiz de mágico,  a chamou para assistente e, de pronto, a menina aceitou... Já que o que restou após a compra da passagem era bem pouco e, em poucos dias, acabou. Exercendo a velha maestria em sacanagem, o destino a linhagem aumentou, e o novo casal, que só fugia da estiagem, gastaria em fralda pra limpar cocô. Além de resultar nesta canção, que só vestiu nova roupagem de algo que Belchior cantou, que diz que é preciso uma noite na friagem, para que o dia passe, enfim,

INESGOTÁVEL (Ricardo Moreira, texto musicado por Fernando Cavallieri)

O amor não tem canção definitiva  mesmo após tanta saliva  que se usou com tal assunto...  De forma melancólica ou festiva,  na voz solo de uma diva  ou entoada em conjunto. O amor é tema quase onipresente  com teor terno ou “caliente”,  superficial.... profundo... É que o cupido atinge ateu e atinge crente,  atencioso e indiferente,  em qualquer parte do mundo. Sempre tem quem chora por amor.  Tem sempre um coração flechado pela dor. E até pra quem diz que o amor é uma “flor roxa”  Ele acontece de repente e chega avassalador.