PERSONAGEM DE FLAUBERT (Ricardo Moreira)

Ele me jurava amor eterno
e, assim, nas noites de inverno,
me levava ao seu chalé...
Me escrevia versos no caderno,
se "aprumava" com bons termos,
me acordava com café.
Me aquecia em frente a uma lareira,
me explicava em qual madeira
se envelhece um Carménère,
eu sorria com qualquer besteira,
até porque por vez primeira
alguém me amou como mulher.

Preservava o clima de paquera
e, assim, durante a primavera,
era o meu "chef" e o meu chofer...
E junto a gente viu de "A bela e a fera"
até "Platoon", quase que zera
os musicais de Fred Astaire.
Nesse tempo achei que era besteira,
mas me deu uma ciumeira
da invenção dos Lumière...
É que ele acompanhava a história inteira
e me esquecia na cadeira 
às vezes sem um olhar sequer.

Fui me acostumando com o abandono
e repetia todo o outono
"Seja o que Deus quiser"
Nem vinha me ver de "tanto sono"
e me trocou pelo kimono
ou outra distração qualquer.
Tinha o futebol da sexta-feira,
disse não querer coleira...
Um defensor do "Laissez-faire"
Levantou-me a mão "só de zoeira"
mas por sorte uma parceira
veio e "meteu a colher"...

Chega o verão,
e eu tive a confirmação
de que jamais existe briga 
se um não quer 
Saí da relação mais livre
e com vontade de causar inveja 
em personagem de Flaubert.

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