A NOITE FRIA ENSINA A AMAR O DIA (Ricardo Moreira)

Severino trouxe na bagagem 
cicatriz e tatuagem que fizera na cadeia,
tentando um recomeço
sem tropeço ou malandragem...
Sabedor que a gente colhe o que semeia.

Veio conversando na viagem 
com uma moça cuja imagem
a princípio lhe era feia,
com quem dividira uma hospedagem, 
o adeus à agreste paisagem
e aos olhos cheios de areia.

Um breve papo, coisa de "hora e meia",
a filha do "dotô" Gouveia (como se apresentou)
instigou no cabra uma coragem,
e ele passou a ver vantagem
em investir num novo amor.

Aprendiz de mágico, 
a chamou para assistente
e, de pronto, a menina aceitou...
Já que o que restou após a compra da passagem
era bem pouco e, em poucos dias, acabou.

Exercendo a velha maestria em sacanagem,
o destino a linhagem aumentou,
e o novo casal, que só fugia da estiagem,
gastaria em fralda pra limpar cocô.

Além de resultar nesta canção,
que só vestiu nova roupagem
de algo que Belchior cantou,
que diz que é preciso uma noite na friagem,
para que o dia passe, enfim, a ter valor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PAFÚNCIO (Ricardo Moreira)

O JOIO E O TRIGO (Ricardo Moreira)

INVISÍVEIS (Ricardo Moreira)